Especial Constantin Brancusi
#12 — O mestre da escultura moderna expõe no Centro Pompidou
Olá Arty Lovers. Declaramos oficialmente aberta a programação de primavera! Façamos abstração do clima, que parece ter ficado parado lá no outono, e vamos estrear nossa agenda com mais um monumento do século 20: Constantin Brancusi, mestre da escultura moderna cuja retrospectiva acabou de abrir no Centro Pompidou. "Outro monumento?", você dirá. Sim! Parece que as exposições de grande envergadura de nomes cruciais para a história da arte moderna e contemporânea não acabam mais. E já que é assim, voltemos para a Paris da modernidade, desta vez sob o ângulo da escultura.
No programa:
Três razões para amar Constantin Brancusi
Brancusi x Rodin: batalha técnica
A arte perante o tribunal
Enquete
A chuva e o tempo bom
🤎 Três razões para amar Constantin Brancusi
1) Ele revolucionou a escultura
Quando Brancusi chegou em Paris em 1904, de sua Romênia rural, ele ainda não sabia que iria abalar as bases da arte. Considerado como o inventor da escultura moderna, ele adotou formas simples, buscando exprimir a essência das coisas mais do que as coisas propriamente ditas, abrindo as portas para a abstração. Superfícies rugosas contrastavam com outras extremamente lisas, resultado de um minucioso polimento (vide a Musa adormecida ali em cima). Ele integrou a base da escultura à própria obra, até o extremo como em uma de suas obras-primas, a Coluna infinita. Em seu atelier, dançarinas se moviam em meio a esculturas, algumas delas em movimento graças a um sistema de polias giratórias. Uma verdadeira celebração da arte, da liberdade e da inovação.
2) Seu trabalho foi alvo de grandes escândalos
Você já reparou que nós adoramos um escândalo nas artes, não é? Pois a obra de Brancusi foi alvo de vários deles! Em 1913, ele causou alvoroço em Nova Iorque com o seu Retrato da Srta. Pogany I (1912-1913), um rosto oval com olhos esbugalhados, que foi objeto de zombarias e discussões intermináveis.
Em 1920, foi a vez de sua Princesa X abalar o Salão dos independentes em Paris. Assustados com a polêmica que a obra (comparada a um falo) poderia provocar, os organizadores forçaram o artista a retirá-la. Isso rendeu a ele uma coluna de apoio intitulada "Pela independência da arte", assinada por nada menos do que Fernand Léger, Erik Satie, Jean Cocteau, Georges Braque, Francis Picabia, Blaise Cendrars, André Derain, Natalia Goncharova e Pablo Picasso. Já em 1927, o seu Pássaro no espaço foi o ponto de partida para um dos julgamentos mais famosos da história da arte moderna!
3) Ele doou o seu ateliê para a posteridade
Os debates que fizeram de Brancusi um dos escultores mais famosos de seu tempo provocaram, por outro lado, um certo cansaço no artista. Ele reduziu a sua participação em exposições parisienses e se concentrou no seu próprio atelier. O seu estúdio virou um verdadeiro laboratório expositivo, com obras organizadas em “grupos móveis”. Cada escultura vendida era substituída por uma cópia em gesso ou em bronze para manter a unidade do conjunto. O local também recebia festas e jantares frequentados pela nata das vanguardas modernas. Além de Duchamp, Picasso, Léger, Satie, ia lá um certo grupo de brasileiros formado por Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.
Solteiro, sem ter reconhecido o seu único filho, Brancusi doou em testamento a totalidade de seu ateliê para o Estado francês. Com uma condição: que ele fosse conservado com absolutamente tudo o que ele conteria no dia de sua morte. E assim foi feito. Após vários destinos, uma reconstrução idêntica desse estúdio forma agora o coração da retrospectiva no Centro Pompidou.
Com mais de 200 obras e outras centenas de documentos, fotografias, desenhos, cadernos e objetos, embalada pela trilha sonora que animava o ateliê, a exposição reflete as múltiplas dimensões desse artista imenso que foi Constantin Brancusi. O que dizer, senão que é imperdível?
Brancusi
Centre Pompidou
Até 01/07
17€
www.centrepompidou.fr
⚒️ Brancusi x Rodin: batalha técnica
Em 1907, Brancusi teve a honra de integrar o atelier de Auguste Rodin. Uma dádiva para jovem escultor que estava tentando deixar sua marca em Paris? Não exatamente. A produção quase industrial adotada por Rodin não correspondia à ideia que o romeno tinha da prática. "Com Rodin, eu fazia uma escultura por dia. Eu estava infeliz", disse ele. Isso porque Rodin utilizava a técnica da modelagem, através da qual é possível criar um molde e fabricar diversas cópias de uma mesma escultura. Brancusi não se sentiu à vontade com isso e deixou o atelier um mês depois para encontrar o seu próprio caminho através do entalhe.
Entalhe?
Essa técnica de origem ancestral consiste em trabalhar diretamente a pedra ou a madeira sem um modelo preconcebido, muitas vezes até sem desenhos ou estudos preparatórios. O artista enfrenta o material bruto, num verdadeiro frente a frente com a matéria.
"A modelagem é mais fácil, você pode voltar atrás, corrigir, acrescentar, mudar, enquanto o entalhe exige um confronto impiedoso entre o artista e os materiais que ele precisa dominar. E isso requer habilidade", dizia Brancusi. O entalhe representa portanto um retorno a uma prática instintiva e orgânica. Exatamente como a que ele praticava em sua Romênia natal e que fez dele o mestre incontestável da escultura do século 20.
⚖️ A arte perante o tribunal
Quando Brancusi envia, em 1926, uma escultura intitulada Pássaro no espaço de Paris para Nova Iorque para participar de uma exposição coletiva com curadoria de Marcel Duchamp, ele não conta com um pequeno detalhe. No momento do desembarque, as autoridades americanas se recusam a considerar o objeto como uma obra de arte e a classificam como um mero objeto utilitário. O problema? Ao invés de beneficiar de isenção de impostos, ele deve pagar taxas de importação bastante elevadas. O escultor, é claro, não se contenta com essa decisão e apresenta queixa no tribunal.
O julgamento começa em outubro de 1927. A questão inicial é se a obra de Brancusi realmente se assemelha àquilo que deveria "imitar", conforme indicado em seu título. Passar nesse teste a tornaria oficialmente uma escultura (ou seja, arte) e a isentaria das tarifas alfandegárias.
Pela primeira vez na história, a justiça definiria o que é ou não uma obra de arte. Apesar de diversos testemunhos confirmando a decisão dos agentes, o juiz Byron Waite se convence de que a visão que os tribunais têm da arte está desatualizada. Edward Steichen, proprietário da obra, explica: "No final do julgamento, o juiz concluiu que não cabia à administração do Tio Sam definir o que poderia ou não ser uma obra de arte; a alfândega dos EUA, portanto, teve que se submeter à opinião daqueles cuja competência no assunto havia sido reconhecida." Brancusi obteve ganho de causa — e a história da arte também!
🕵️ ENQUETE
Boas maneiras em Paris — Seu guia definitivo
A chuva e o tempo bom 🌦️
Se você nos acompanha desde o início, provavelmente já percebeu que quase sempre começamos falando do tempo. É que, em Paris, o clima é um assunto sério. Seja pelos extremos que se fazem cada vez mais frequentes, seja pela regularidade de uma dada situação (só chove, não chove mais…), ele é onipresente nas conversas. Na televisão ou no rádio, a previsão não é uma nem duas vezes por dia. São inúmeros boletins detalhando a temperatura, a chuva, o sol, os ventos, o tipo de chuva, o tipo de vento... E não é só isso. Existe também a previsão de neve na montanha nas férias de inverno, de temperatura da água do mar nas férias de verão, da quantidade de ondas para os surfistas ou ainda os alertas excepcionais. Franceses são literalmente fascinados pelo tempo!
E o que isso tem a ver com você? Digamos que você esteja frente a frente com um parisiense, seja num elevador, seja numa fila, seja numa sala de espera ou outro. Após utilizar suas melhores fórmulas de polidez e seu sorriso discreto, dos quais já falamos por aqui, tente engatar a conversa dizendo algo como: "Il fait beau!" (que dia bonito) ou "Il fait moche!" (que tempo horrível) ou ainda "Il pleut tout le temps..." (não pára de chover). Seu interlocutor literalmente entrará no clima e, entusiasmado, poderá até contar anedotas divertidas ou dramáticas relacionadas ao tempo do momento. Entendendo ou não o que ele diz, essa é uma excelente forma de quebrar o gelo. E, por que não, esboçar uma amizade com um nativo!
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