A duas semanas da cerimônia de inauguração dos jogos olímpicos, a cidade está em polvorosa. Os parisienses já começaram a debandada para abrir lugar para os turistas do mundo inteiro que passarão por aqui durante um mês. Eles ficarão alojados em hotéis, apartamentos ou até barcos espalhados por toda a região.
Já os atletas que estão prestes a chegar se instalarão na cidade olímpica, um bairro novinho que saiu do chão na beira do rio Sena. E é pra lá que nós vamos hoje. Você vai conhecer em primeira mão um percurso artístico que nem os parisienses sabem que existe!
No programa
Medalha de ouro em urbanismo
Raízes artísticas
Visita guiada
Agradecendo com as mãos
🏅 Medalha de ouro em urbanismo
O desafio era esse: construir um novo bairro, saindo do zero, em cinco anos. Mas antes de ser entregue à população, ele deveria abrigar nada menos do que 14.250 camas para os atletas olímpicos e suas equipes.
A missão foi cumprida com sucesso, e o Village des athlètes é hoje o mais novo bairro da região parisiense. Ocupando 52 hectares, ele se estende por três cidades (Saint-Denis, L’Île-Saint-Denis e Saint-Ouen-sur-Seine) e possui cerca de 40 prédios novinhos em folha. O plano diretor foi projetado por Dominique Perrault, um dos arquitetos queridinhos dos franceses, e dezenas de outros estúdios de arquitetura deram cara e cor aos edifícios.
Antes dessa transformação radical, o local era uma zona industrial utilizada por empresas e depósitos. Alguns prédios históricos já existiam por lá, como a Halle Maxwell e o seu pavilhão Copérnico, antigas usinas de geração elétrica que foram reabilitadas para abrigar a nova sede do ministério do Interior, ou a Cité du Cinéma, outra usina elétrica que virou um complexo imaginado por Luc Besson dedicado à produção de cinematográfica francesa.
Atualmente, o acesso à região é restrito às equipes dos jogos. Os apartamentos dos atletas são equipados com camas de papel vindas das olimpíadas de Tokyo e banheiros. Cozinha? Não, não tem. Esses moradores efêmeros terão acesso aos restaurantes pilotados por alguns dos melhores chefes do país espalhados pelo complexo.
Após os jogos, será necessário mais um ano de obras para adaptar o bairro e os apartamentos aos novos moradores e trabalhadores. Somente em meados de 2025 será possível visitar esse local, construído sob medida e totalmente voltado para o rio Sena. Somente lá os parisienses poderão descobrir as obras de arte que se escondem em toda a zona — e que nós levamos você para conhecer em avant-première!
🌱 Raízes artísticas
“Correntes férteis”: esse é o nome do percurso artístico integrado à cidade dos atletas, imaginado pelo curador Gaël Charbau. Quatorze obras de arte foram concebidas especificamente para o local por artistas renomados ou emergentes. “Nossa força motriz? Que a obra não seja um simples elemento da paisagem, mas que ela que provoque surpresa, mesmo que isso signifique não revelá-la o tempo todo”, explica o curador. Algumas delas podem vistas de longe, ao passo que outras serão contempladas apenas por moradores e convidados, no interior dos prédios.
Pensadas para levar poesia, sonhos e lembranças aos passantes, essas obras ativam todos os sentidos. Cada artista teve o cuidado de pesquisar a história e a geografia do local, e o conjunto das obras cria um diálogo entre espaços públicos e privados, no qual a arte se insere à vida cotidiana.
Laurent Grasso, Michel Chevalier e Nathalie Junod Ponsart são alguns dos artistas que assinam as obras que mais chamaram a nossa atenção. Aqui vão mais alguns detalhes!
🚩 Visita guiada
Flores por todos os lados
Laurent Grasso imaginou para o local uma intervenção urbana na qual flores selvagens que teriam passado por um processo de mutação estão incrustadas e espalhadas pelo chão. Em metal, integradas ao pavimento, elas pontuam o caminho pelas calçadas. Ao passante, fica o convite para procurá-las.
Fachada luminosa
Para Nathalie Junod Ponsard, arte rima com luz. Em uma de suas obras na cidade dos atletas (ela tem duas), a fachada da Halle Maxwell se tinge de diferentes tonalidades, assim que o sol se põe. Uma composição visual que pode ser contemplada de longe, à beira do rio Sena.
Luzes de cristal
O celebrado artista digital Miguel Chevalier desenhou para um lote de edifícios cinco esculturas que iluminam as entradas e projetam no chão imagens de ondas coloridas que, quando sobrepostas, produzem fenômenos de interferência. As curvas — transparentes durante o dia e luminosas ao cair da noite — evocam as ondulações das águas do rio.
Cimento urbano
O artista alemão Jan Kopp visitou o local ainda durante a fase de demolição. E foi ali mesmo que ele coletou centenas de resíduos que constituem hoje a matéria-prima de seus mastros inspirados nos pilares das gôndolas de Veneza e nas cidades da Baviera. Com a ajuda dos artistas do ateliê Le 6b, nas proximidades, os resíduos foram compactados para criar uma novo material, feito de vestígios de vidas.
Courants fertiles
Village des athlètes
Saint-Ouen-sur-Seine
gratuito a partir de julho de 2025
olympics.com/fr/
Boas maneiras em Paris — seu guia definitivo
Agradecendo com as mãos 🤙
Imagine a situação típica: você vai atravessar a rua. Enfrentando os carros que passam em fúria no Boulevard Saint-Germain, você coloca o pé na faixa de pedestres e o carro freia bruscamente.
O que você faz pra agradecer? Estende o dedo polegar e faz um “legal”? 👍 Se o motorista falasse português, ele provavelmente diria: “Eu, hein?” Mas ele fala francês, e de todo jeito você não ouvirá nada do que ele resmungar dentro do carro. O fato é que ele vai estranhar e não entender por que é que você mostrou para ele… o número um!
Sim, em Paris (e na França em geral) conta-se com os dedos a partir do polegar. Seguindo pelo indicador, pelo dedo médio, pelo anular e enfim estendendo o mindinho pra chegar até o cinco. Um verdadeiro malabarismo dedístico!
Mas o que é que isso tem a ver com o Boulevard Saint-Germain? É que, pra agradecer com um gesto, você deverá simplesmente levantar a mão com os dedos estendidos. Assim: ✋
E não, ele não vai pensar que é para ele parar! Nem que você anunciou que gostaria de dizer alguma coisa! Ao contrário, ele vai balançar a cabeça para frente com um leve sorriso no canto da boca como quem diz: “De nada!”
Obrigado por ler Paris Arty! Quer você nos acompanhe desde o início ou tenha acabado de chegar, é um prazer ter você conosco ⭐️