Uma tarde no musée d'Orsay
#3 — Van Gogh, Janmot, Morisot. Duas exposições temporárias e a precursora do impressionismo
Novembro chegou, e com ele as temperaturas baixas e a chuva fina que insiste em cair. A partir de agora, durante os próximos meses, os passeios serão cada vez mais em lugares fechados. E quais são nossos lugares fechados favoritos, Arty Lovers? Cafés, restaurantes, lojas? Não! Museus de arte, é claro! (Até porque eles já vêm com seus próprios cafés, restaurantes e lojas.)
Para começar, que tal uma incursão no musée d’Orsay e suas exposições temporárias?
No programa de hoje
O fenômeno do outono
Uma vida dedicada ao poema
Retrato: Berthe Morisot
Bônus
Pardon
🍂 O fenômeno do outono
Se você está ou estará em Paris pelos próximos meses, é impossível não ouvir falar dele. O dono da orelha mais famosa do mundo, o símbolo do artista incompreendido, aquele que vendeu apenas um quadro durante toda a sua vida mas que desde a sua morte bate recordes em leilões. Ele é, ele é… 🥁 Van Gogh!
O musée d’Orsay apresenta uma exposição inédita sobre os últimos meses de vida do pintor. Em 1890, deprimido e nostálgico, Vincent Van Gogh deixa o hospício em Saint-Rémy-de-Provence e volta à região parisiense. Sob a recomendação de seu irmão Theo, ele se instala em Auvers-sur-Oise, uma pequena cidade a alguns quilômetros da capital, onde mora um certo doutor Gachet. Especialista da melancolia (hoje diríamos psiquiatra), ele será imortalizado pelo artista que, tomado por um último impulso de criação, pintará não menos do que 74 quadros em 70 dias!


A exposição revela esse momento criativo excepcional através de obras-primas como A Igreja de Auvers-sur-Oise, O Doutor Paul Gachet e Raízes, sua tela derradeira realizada no dia de sua morte. Trata-se de um capítulo imperdível da produção desse imenso artista que foi Van Gogh. Mas como todo evento dessa escala… ele é um sucesso! Prepare-se para enfrentar fila e para admirar os quadros junto com dezenas de outras pessoas. Uma dica de arty insider? Chegue bem cedinho para estar dentre os primeiros a entrar na sala. 🌅 Atenção, a reserva é obrigatória!

Van Gogh à Auvers-sur-Oise. Les derniers mois
Musée d’Orsay
16€
www.musee-orsay.com
Mas eu não gosto de muvuca, Paris Arty 🤷🏻♀️
Sem problemas! Deixe Van Gogh para uma outra vez e vá apreciar a bem mais tranquila exposição de Louis Janmot.
✍️ Uma vida dedicada ao poema
Pintor da escola católica de Lyon, Louis Janmot (1814-1892) dedicou grande parte de sua vida a um projeto chamado O Poema da alma. Criação única na história da arte francesa, trata-se de um ciclo narrativo composto por 18 pinturas, 16 desenhos e 2.832 versos que relatam a trajetória de uma alma na terra.
Se a busca de um ideal e o desejo de um infinito inspiraram diversos artistas no século XIX, poucos foram tão longe quanto Louis Janmot e sua obra de arte total, que se inscreve na linhagem de William Blake. Entre moralidade, conservadorismo, maestria técnica e uma surpreendente modernidade, o seu trabalho é uma descoberta fascinante. Esta é a primeira vez em que o ciclo completo é apresentado ao público, portanto, uma rara oportunidade para conhecer um artista que talvez volte a fazer parte dos livros de história.



Louis Janmot. Le Poème de l’âme
Musée d’Orsay
16€
www.musee-orsay.com
👤 RETRATO
Berthe Morisot, a grande dama do impressionismo 🎨

Nome: Berthe Morisot
Nascimento: 1841
Falecimento: 1895
Movimento: Impressionismo
Onde ver: Coleção permanente do Musée d’Orsay
Quem é ela: Dentre os diferentes movimentos artísticos do século XIX, o impressionismo é provavelmente um dos mais emblemáticos. Mas você sabia que uma de suas precursoras foi uma mulher? Berthe Morisot participa da primeira exposição impressionista em 1874 ao lado de nomes como Paul Cézanne, Edgar Degas, Claude Monet e Auguste Renoir. Determinada e consciente de seu talento, ela continua a criar mesmo após o seu casamento e o nascimento de sua filha. Com suas telas marcadas por traços espessos, cores claras e gestos inacabados, mostrando a vida feminina de seu tempo, Berthe Morisot deixa uma verdadeira marca na história da arte ocidental.
“Minha ambição é capturar um pouco do efêmero.”
BÔNUS
Dança das cavernas 🩰
Quem diz novembro diz também decoração de natal, que aos poucos invade a cidade. Dentre as vitrines mais famosas a se contemplar, estão as das Galeries Lafayette. A poucos metros dali encontra-se a belíssima Ópera de Paris desenhada por Charles Garnier. O problema? A fachada está atualmente em obras. A solução? Arte, é claro!
Em uma parceria com a Chanel, o palais Garnier convidou o artista JR para uma intervenção nos grandes tecidos que escondem os andaimes. Conhecido por suas intervenções urbanas (como aqui, no Rio de Janeiro), JR imaginou uma obra em dois atos. O primeiro, Retour à la caverne, aconteceu em setembro e iniciou a transformação da célebre fachada em uma caverna. O segundo, batizado Dans la caverne, concluiu a metamorfose. E foi nesse cenário — uma imensa gruta com ares pré-históricos marcada por traços de mãos humanas — que o coreógrafo Damien Jalet apresentou no domingo 12/11 Chrioptera, uma performance com 153 dançarinos vindos do mundo inteiro. Sob a chuva fria de novembro, mais de 25.000 pessoas assistiram ao espetáculo. Uma experiência hipnotizante!


🥐 Está em Paris? A instalação monumental está visível até o dia 25 de novembro. Corre lá!
🤷🏻♀️ Não foi desta vez? Veja o espetáculo na íntegra aqui!
JR, Retour à la caverne
Até 25/11
gratuito
Place de l’Opéra
Boas maneiras em Paris — seu guia definitivo
Revisando os básicos #2
Pardon 👣Ai! Ui! É um que esbarra da direita, outro da esquerda, e mais um atrasado ali atrás que se prepara para passar ao seu lado a toda velocidade.
Paris é uma cidade densa. Entre moradores, trabalhadores e turistas do mundo inteiro, em qualquer lugar que se vá haverá gente, muita gente. E, inevitavelmente, essas pessoas encostarão umas nas outras em um dado momento. Ao caminhar na calçada, ao atravessar a rua, ao pegar o metrô, ao fazer compras no supermercado…
Tá, mas e daí, Paris Arty? E daí que os parisienses detestam qualquer tipo de contato corporal com desconhecidos. Caso você encoste em alguém e siga o seu caminho, provavelmente ouvirá um resmungo incompreensível e uma cara fechada. “Que gente mal-humorada”, você pensará.
É porque, como na padaria, faltou um pequeno detalhe. Uma pequena palavra que serve para retornar a situação a seu favor. “Pardon” (desculpe)!
Em Paris, cada pequeno contato físico imprevisto deve ser sempre acompanhado por um pedido de desculpas. Às vezes, o pardon é anunciado antes mesmo do toque acontecer. Vai descer do metrô e tem alguém na sua frente? Diga pardon. Sua sacola passou de raspão no casaco do vizinho? Diga pardon.
A mesma situação que poderia deixar o parisiense de extremo mau-humor será agora apenas um fato ordinário que passará despercebido. Sim, pense no poder dessas duas pequenas sílabas! Loucos, esses gauleses? Talvez, mas em Lutécia, melhor fazer como os romanos!
Obrigado por ler Paris Arty! Quer você nos acompanhe desde o início ou tenha acabado de chegar, é um prazer ter você conosco ⭐️
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