Olá Arty Lovers! Como estão vocês? Viram Paris de perto, ou se deliciaram com os cenários de tirar o fôlego dos jogos olímpicos e paralímpicos? Nós sim! E agora estamos de volta, cheios de novidades. Para começar, um novo formato. Sua newsletter favorita ganha em dinamismo e terá, daqui para a frente, edições semanais, mais curtas, e um grande formato, uma vez por mês. É uma forma de ficarmos mais próximos de vocês, e ao mesmo tempo continuar a elaborar alguns assuntos de maneira mais aprofundada. Outra novidade: além dos perfis Instagram e Facebook, nós abrimos uma página no LinkedIn. Acompanhem-nos por ali também!
E para estrear o grande formato mensal, vamos desejar feliz aniversário a um (outro) movimento icônico da história da arte ocidental: o Surrealismo, que completa 100 anos em grande estilo.
(Nota bene: Se a mensagem aparecer cortada, clique em “mostrar tudo”, ou equivalente, para ler até o fim. Prometemos um grande formato, não é? 😉)
No programa:
Nos meandros do inconsciente
7 curiosidades sobre o Surrealismo
Uma exposição manifestadamente surreal
Encontro marcado às 20h
💭 Nos meandros do inconsciente
Quando se fala em Surrealismo, talvez logo venha à sua cabeça os nomes de Salvador Dalí e René Magritte. Se eles são os artistas mais internacionalmente reconhecidos, é porque foram, digamos assim, os engraçadinhos do grupo. Mas a verdade é que os surrealistas foram muito numerosos e, em sua grande maioria, bastante pessimistas. Afinal, o movimento nasceu no período entre-guerras. Seu principal articulador foi André Breton, poeta e escritor francês, estudante de medicina que trabalhou como enfermeiro durante a Primeira guerra mundial.
Foi nos hospitais militares, junto aos feridos e traumatizados, que ele fez suas primeiras experiências de associação livre, inspiradas na psicanálise de Sigmund Freud. De volta a Paris, Breton e seus amigos Louis Aragon, Paul Élouard e Philippe Soupault, todos revoltados com o inferno que tinham acabado de viver, estavam decididos a reconstruir o mundo para acabar com o sistema que gerara tanto sofrimento. Iconoclastas e visionários, eles formalizaram os fundamentos de uma nova arte, baseada na pura exploração do inconsciente, rejeitando toda e qualquer noção de gênio artístico.
No dia 15 de outubro de 1924, André Breton publicou o Manifesto surrealista, que ele definiu assim:
“Surrealismo (n.m.): Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.”
Estava dada a largada para um dos movimentos mais marcantes da história da arte!
🧐 7 curiosidades sobre o Surrealismo
1️⃣ O nome veio de uma peça de teatro
Em 1917, André Breton e seu amigo Louis Vacher vão ao teatro assistir à estreia da peça Les Mamelles de Tirésias, um drama surrealista, de Guillaume Apollinaire. A palavra, inventada pelo autor alguns meses antes, chama a atenção de Breton e cai como uma luva. Pronto, a sua nova ideia de arte agora tinha um nome!
2️⃣ Ele tem um pé na literatura
Por ter sido conceituado por poetas, os livros foram uma das principais fontes de inspiração do Surrealismo. Os membros do grupo costumavam dar notas para as figuras literárias, em rankings deliberadamente escandalosos. Lautréamont, Lewis Carroll, Baudelaire e Rimbaud são alguns dos mais bem avaliados. Eles também trouxeram à tona autores até então desconhecidos, como Novalis, Marquês de Sade e Alfred Jarry, reescrevendo assim a história da literatura francesa.
3️⃣ As mulheres ocuparam um lugar privilegiado
Muito além de musas inspiradoras, as mulheres foram membros ativos do Surrealismo. Presentes desde as primeiras exposições internacionais nos anos 1930, elas foram dezenas de artistas a se interessar pela exploração do inconsciente proposta pelo movimento. Mas por que elas são bem menos conhecidas que seus colegas masculinos? Por conta dos apagamentos da história da arte, simplesmente.
4️⃣ Ele revolucionou as técnicas artísticas
A palavra de ordem surrealista era “liberdade”. Isso se refletiu em todos os aspectos da criação, inclusive na exploração de novas técnicas. Cadáver esquisito, colagem, escritura e desenho automáticos, fotomontagem, técnicas mistas… Esses foram alguns dos procedimentos utilizados pelos surrealistas que perduram até hoje na arte contemporânea.
Anedota: Durante o seu exílio nos Estados-Unidos, o pintor surrealista alemão Max Ernst apresentou a técnica do gotejamento para um jovem artista americano chamado… Jackson Pollock!
5️⃣ Foi um dos primeiros movimentos de arte politizados
Desde a sua fundação, o Surrealismo se acompanhou de uma revista, chamada “A Revolução Surrealista”, inspirada na Revolução Bolchevique. O compromisso político era um engajamento formal de seus fundadores — mas que também levou à ruptura do grupo. Divergências, brigas e disputas eram uma constante entre os membros. André Breton, conhecido por sua intransigência, ficou famoso por suas expulsões e reintegrações de artistas no movimento, de acordo com o seu posicionamento individual. Muitas pessoas o detestam até hoje por conta disso.
6️⃣ Ele é a vanguarda mais ampla e longeva do século 20
Fundado em Paris em 1924, o Surrealismo chegou até o Japão, passando pela Espanha, Bélgica, Alemanha, República Tcheca, México… Até no Brasil ele respingou. Apesar das divergências, a liberdade total defendida pelo movimento atraiu artistas do mundo inteiro. André Breton faleceu em 1966, mas o Surrealismo perdurou até 1969, ano em que sua morte foi oficialmente anunciada.
7️⃣ Frida Kahlo odiou os surrealistas
Em 1938, André Breton viaja para a Cidade do México para fazer uma série de conferências, e encontra Leon Trotski, refugiado na casa de Diego Rivera e Frida Kahlo. O francês se encanta com as obras atormentadas da pintora, e logo a convida para expor em Paris. Ela aceita, mas a experiência é uma catástrofe. Frida detesta absolutamente tudo e, em uma carta destinada a seu amigo Nickolas Muray, ela não poupa ninguém de seus insultos: “Sentam-se durante horas em cafés, esquentando seus preciosos traseiros, e falam sem parar sobre cultura, arte, revolução. Acham que são os deuses do mundo, sonham com as mais fantásticas bobagens e poluem o ar com suas teorias que nunca se tornam realidade. No dia seguinte, eles não têm nada para comer em casa porque nenhum deles trabalha. Eles vivem como parasitas.”
E aos que ousam associar sua obra ao Surrealismo, ela afirma: “Eu nunca pintei sonhos, apenas a minha própria realidade.”
🖼️ Uma exposição manifestadamente surreal
Para comemorar esse centenário, o Centro Pompidou, que possui um dos maiores acervos de obras surrealistas do mundo, organiza uma exposição monumental em torno do Manifesto de André Breton.
O percurso começa com a travessia de uma cortina vermelha, tal a boca de uma criatura fantástica que engole o visitante, e é organizado em quatorze grandes temas. Imaginada como um labirinto, a mostra é densa e oferece uma visão ampla do que foi o “fenômeno” Surrealismo, desde 1924 até as mais recentes repercussões. Um dos pontos fortes? A reabilitação das mulheres, que fazem parte integrante do discurso e pontuam cada uma das salas. Segue aqui uma seleção de cinco obras que chamaram a nossa atenção.
Entre sonho e realidade
Ligados pela fumaça
Surrealismo triunfal
Enigmas de uma artista rebelde
Poesia sobre tela
Surréalisme — L’Exposition du centenaire
Centre Pompidou
Até 13/01/25
17€
www.centrepompidou.fr
Boas maneiras em Paris — seu guia definitivo
🕰️ Encontro marcado às 20h
Hoje é um dia muito especial, afinal você tem (sim, sim!) um encontro com um habitante local.
Ficou combinado: às 20h, no endereço indicado.A pergunta que vale milhões: a que horas você realmente deve chegar?
20h30? 21h? 21h30?
Claro que não!
Em um encontro com hora marcada, você chega… na hora marcada! Parece uma bobagem, mas o fato é esse. No máximo, se você não quiser parecer disponível demais para o conviva, dá para acrescentar uns 5 ou 10 minutinhos “de polidez”. Mas a partir de 15 minutos depois da hora combinada, pode ter certeza de que seu contato estará nervoso e irritado, pensando que essa será a última vez que ele o convidará.
A pontualidade é um valor caro aos parisienses, pois o tempo é curto e precioso, portanto melhor vale respeitá-la. Se alguns poucos minutos são tolerados, a maioria deles concordará com a frase (que a team Paris Arty aprendeu na marra): “Chegar na hora, é chegar mais cedo.”
Obrigado por ler Paris Arty! Quer você nos acompanhe desde o início ou tenha acabado de chegar, é um prazer ter você conosco ⭐️