É com o coração apertado que andamos estes últimos dias, testemunhando de longe a tragédia que assola o Rio Grande do Sul. É que, antes de sermos Paris Arty, somos Porto Alegre Arty. Sim, a capital gaúcha é a nossa terra, por isso prestamos toda a nossa solidariedade ao Estado.
E se a hora agora é de assistência às pessoas e seus recursos básicos, também é preciso lembrar que chegará o momento da reconstrução. Pensando nisso, esta edição é dedicada à grande enchente de 1910 em Paris e às medidas que foram tomadas para a conservação do patrimônio artístico e cultural.
No programa
1910: Paris debaixo d’água
O Zouave, uma régua humana
Louvre: das margens do Sena ao alto da França
Quai Branly, um museu permeável
Três formas de ajudar
🌊 1910: Paris debaixo d’água
Talvez você não saiba, mas em 1910 Paris passou por uma enchente de grandes proporções. Era janeiro, no auge do inverno. Os solos estavam congelados e a chuva caiu por dias a fio. Não tendo para onde escorrer, toda essa água foi parar no rio Sena, cujos níveis subiram rapidamente. 2, 3, 6… Até chegar aos 8,62 metros.
40 quilômetros de ruas, 12 bairros e 20.0000 prédios foram atingidos pelas águas. Grande parte dos monumentos históricos também se encontraram submersos, e muitos documentos foram destruídos para sempre. Pontes provisórias para atravessar as ruas foram instaladas e os barcos invadiram a paisagem parisiense.
Os efeitos sociais, claro, foram catastróficos, entre doenças, desemprego e falta de alimentos. Essa tragédia marcou os espíritos parisienses. Durante mais de três anos, cartões postais de Paris inundada ainda eram enviadas aos quatro cantos do mundo.
Um outro evento como esse tem uma chance em 100 de ocorrer a cada ano, e outras enchentes de menores proporções já aconteceram desde então. Por isso, inúmeras medidas preventivas vêm sendo implementadas há mais de um século, tendo como referência os níveis da grande crue de 1910.
🦶 O Zouave, uma régua humana
Os zoaves eram soldados do exército colonial francês nos séculos 19 e 20. Já a estátua em calcário de Georgers Diebolt, feita em 1856 e instalada em um dos pilares da Pont de l’Alma, é um ponto de referência para a subida do rio. Quando a água bate nos seus pés, isso significa que ela já atingiu 3,80 metros de altura, um nível bastante preocupante que põe a cidade em alerta. Mas trata-se mais de uma curiosidade do que uma medida exata — a régua oficial fica na Pont d’Austerlitz.
Zouave du pont de l'Alma
Pont de l’Alma — Paris
⛰️ Louvre: das margens do Sena ao alto da França
Localizado às margens do Sena, o Museu du Louvre é altamente vulnerável às enchentes. Embora ele disponha de um elaborado plano de proteção contra riscos de inundação, caso haja uma verdadeira emergência, as equipes não teriam tempo suficiente para evacuar e abrigar todas as obras da reserva técnica. Afinal, seriam mais de 250.000 peças ocupando 10.000 m² no subsolo do museu.
Por isso, em 2019, foi inaugurado o Centro de Conservação de Liévin, perto do Louvre-Lens, no norte da França. É lá que se encontram agora, ao abrigo das águas, as reservas do maior museu de arte do mundo. Em caso de cheia, apenas as obras em exposição e restauração precisarão ser removidas emergencialmente.
Centre de conservation du Louvre
Cité Jean Jaurès — Liévin
www.louvre.fr
🌳 Quai Branly, um museu permeável
Inaugurado em 2006 também às margens do Sena, o museu do Quai Branly foi desde o início pensado para se proteger das inundações. Projetado por Jean Nouvel, ele dispõe de uma parede enterrada a 30 metros abaixo do solo, cuja superfície porosa limita a pressão hidráulica. O jardim que caracteriza o local possui relevos vegetais e estruturas de argila que ajudam a retardar o avanço da água, bem como um sistema de diques e paredes verticais. Além disso, o museu também tem o seu plano de proteção contra enchentes. Dentre as medidas previstas, uma lista das obras prioritárias em caso de evacuação emergencial e diversas peças estocadas diretamente em carrinhos de mão nas reservas técnicas.
Musée du quai Branly – Jacques Chirac
37 Quai Jacques Chirac, 75007 Paris
www.quaibranly.fr
Boas maneiras em Paris — seu guia definitivo
🚧 Três formas de ajudar
Hoje o nosso guia preferido de boas maneiras está um pouco diferente. Você certamente percebeu, em nossas quinze edições, que o ponto em comum entre todas as regras de boas maneiras em Paris é a consideração ao próximo. Assim, tendo em vista os estragos monumentais no Rio Grande do Sul, nós decidimos compartilhar três iniciativas para ajudar as pessoas afetadas.
1) O Reconstrói POA é um coletivo de arquitetos e engenheiros que estão recolhendo doações para a reconstrução de moradias. Em breve eles estarão atuando também em outras regiões do Estado. É possível doar restos de materiais de construção, como tinta, rolos de pintura, madeiras, azulejos, tijolos, bancadas, pias, tomadas, fios elétricos… Mas também equipamentos para a grande limpeza que será necessária quando as águas baixarem. Pode-se enviar material de qualquer parte do país.
O perfil Instagram é este aqui: @reconstroi.poa
E o site, este aqui: Vakinha2) O SOS RS é uma associação de voluntários que reuniu em uma plataforma em tempo real as necessidades de cada abrigo aos desalojados. Agora, eles estão cadastrando voluntários para pilotar as distribuições — de acordo com suas possibilidades e onde quer que se esteja.
A plateforma é esta aqui: SOS - Rio Grande do Sul
Para acompanhá-los no Instagram é aqui: @sosrs_ajuda
E o formulário de cadastro: aqui3) Já a Secretaria de Estado da Cultura está cadastrando parceiros e voluntários interessados em contribuir com a recuperação de museus, bibliotecas e acervos atingidos pelas enchentes. Por meio de formulários digitais, pode-se indicar as áreas de especialização e de que forma se está disposto a auxiliar.
O formulário destinado às pessoas físicas está aqui: Sedac-RS
Obrigado por ler Paris Arty! Quer você nos acompanhe desde o início ou tenha acabado de chegar, é um prazer ter você conosco ⭐️