O carnaval chegou. No Brasil, os blocos estão na rua há dias, os desfiles oficiais começaram e a festa definitivamente tomou conta do país. Já em Paris… Silêncio total! Fantasias? Só para as crianças na escola e olhe lá. Até existe um bloco que desfila no domingo, mas dele muito pouco se fala. Essencialmente, o clima é apenas de férias de inverno, durante as quais muitas famílias vão esquiar nas montanhas. Mas nós não vamos deixar a peteca cair, e se não podemos falar de carnaval, falaremos de folia! Mais precisamente, dos Années folles, época de todos os escândalos na cena cultural parisiense.
No programa
Paris, da bela época aos anos loucos
A parada que chocou o público
Um balé aquático
Sorria com moderação
🎷 Paris, da bela época aos anos loucos
Se você nos acompanha há algum tempo, lembrará que já mencionamos esta exposição ultra entusiasmante: “Le Paris de la modernité. 1905-1920”, no Petit Palais, que é uma verdadeira imersão na Cidade Luz do início do século 20. Durante vinte anos, Paris foi o centro do mundo, e sua identidade se forjou dali para sempre.
Capital do mundo
Esse curto intervalo de tempo conheceu a Belle époque e os Années folles, dois momentos de intensa ebulição cultural e tecnológica que marcaram para sempre o imaginário parisiense. Dessa época datam as grandes obras-primas do modernismo, desde as Demoiselles d’Avignon até o Cristo Redentor (ele mesmo!). Nas artes, é quando surgem fauvismo, cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo… Paris era uma festa, diria Hemingway anos mais tarde, um Eldorado para jovens artistas de toda a Europa. Entre Montmartre e Montparnasse, cruzaram nomes como Picasso, Modigliani, Matisse, Duchamp, Man Ray, Brancusi… Todos adeptos da vida boêmia e em busca de liberdade. Na cultura popular, era o tempo dos cabarés, do Théâtre des Champs Élysées, da Sagração da Primavera de Igor Stravinsky e da Revue Nègre de Joséphine Baker, que escandalizaram o público.
A tecnologia se acelera
Na tecnologia, a aviação ganhou asas e conquistou salões e imaginários, inspirando a icônica roda de bicicleta de Marcel Duchamp e os quadros de Robert Delaunay (como lá em cima ⬆️). Santos Dumont, por sua vez, era uma figura carimbada cujos feitos e elegância deram origem a um emblemático relógio desenhado por Cartier. Os carros também evoluíram e ganharam novas linhas mais dinâmicas, relacionadas à velocidade. Cinema e fotografia foram outras áreas que se desenvolveram rapidamente e se tornaram um campo de experimentação decisivo para artistas como Fernand Léger e Man Ray.
Entre 1914 e 1918, a guerra passou por lá, fazendo uma grave pausa no frisson criativo. Esse episódio da história não poderia ficar de fora, com as criações sombrias feitas pelos artistas mobilizados nos campos de batalha.
Mulheres na vanguarda
Com curadoria de Annick Lemoine e Juliette Singer, a exposição também dá uma posição de destaque às mulheres que construíram essa história. Sua presença forte desde as primeiras salas e durante todo o percurso (ao invés de serem limitadas a um tema específico, como de costume) é uma iniciativa audaciosa que merece ser notada e aplaudida. Artistas como Sonia Delaunay, Jacqueline Marval, Marie Vassilieff, Tamara de Lempicka e Tarsila do Amaral são algumas das personagens que participaram plenamente das vanguardas artísticas e culturais.
Símbolo da emancipação feminina, a silhueta da garçonne, com seus cabelos curtos e vestidos de cintura baixa, marcou época. Paul Poiret foi um dos seus principais estilistas, mas Jeanne Lanvin também ditaria tendências, acrescentando à alta costura criações em design e perfumaria.
Retrato de uma época
1925, ano que encerra o percurso, foi aquele de uma profunda revolução cultural com o primeiro salão dedicado às artes decorativas e industriais. Era o apogeu do estilo Art Déco, que marcaria o design, a joalheria e a arquitetura até as vésperas da grande crise econômica que chegaria pouco mais tarde. Uma belíssima homenagem ao já citado Cristo Redentor encerra essa viagem no tempo.
Essa riquíssima exposição retrata fielmente um período marcante também para a história do mundo e da própria arte. É por isso que, para completar esta resenha, durante as próximas duas semanas publicaremos algumas “lupas” para falar de obras e artistas em particular. Fique de olho em nossa página principal e no Instagram. E, se você estiver em Paris, não perca essa visita por nada!
Le Paris de la modernité. 1905-1925
Petit Palais
Até 14/04
15€
www.petitpalais.paris.fr
Bônus
🎪 A parada que chocou o público
Também presente na exposição do Petit Palais, Parade faz parte das peças que revolucionaram o espetáculo moderno. Com roteiro de Jean Cocteau, música de Erik Satie, cenário e figurino de Pablo Picasso, em uma mistura de circo, music-hall e cinema mudo, o balé escandalizou o público. Por quais razões? Nosso olhar contemporâneo já não entende muito bem, mas talvez a presença de sons de máquina de escrever, de sirenes, de roda de loteria e até de revolver integrados à orquestra tenha sido um excesso de vanguarda para a burguesia tradicional que compunha a platéia. Reunidas na praça do Châtelet, as pessoas gritavam, assobiavam, se revoltavam… O escândalo foi tão grande que resultou em uma troca de “cortesias” (leia-se palavrões) entre Erik Satie e seu maior inimigo, Jean Poueigh. Quer julgar por você mesmo? Veja aqui alguns extratos e diga-nos o que você achou!
⛲️ Um balé aquático
Inspirados por um dos principais nomes do modernismo musical, o casal de artistas Niki de Saint Phalle e Jean Tinguely imaginou, em 1983, o chafariz Stravinsky. Localizado ao lado do Centro Pompidou, o monumento é composto por dezesseis figuras coloridas e mecanizadas que evocam as obras do compositor russo. Cada uma delas se anima com um movimento específico e jatos d’água, em um verdadeiro balé aquático executado pelo bestiário de Stravinsky. Sereia, ragtime, chapéu de palhaço, raposa, coração, diagonal, elefante, vida, rouxinol, serpente, morte, pássaro de fogo, clave de sol, amor, espiral, sapo… Se o tempo estiver bom, é possível sentar-se em volta para tentar identificar cada um dos personagens. O melhor? Toda a praça é reservada para pedestres e cercada por ótimos restaurantes. Um programa arty ideal para toda a família!
Fontaine Stravinsky
Rue Brisemiche
75004 Paris
Boas maneiras em Paris — seu guia definitivo
Sorria com moderação 🙂
Hoje vamos falar de um assunto delicado. Sim, parisienses são mau-humorados. Mas você já conhece algumas ferramentas para lidar com essa carapuça e sabe que atrás da aparência ranzinza há uma pessoa cordial e até disposta a esboçar… um sorriso!
É claro que, quando finalmente conquistar esse Santo Graal, você terá vontade de responder com uma alegre risada, demonstrando sua felicidade por ter derretido a frieza aparente. Mas não se entusiasme — ainda!
Ao invés de já mostrar todas as cartas, tente resistir e responder à altura, com um sorriso leve, moderado. Moderação, aliás, é a palavra que serve para boa parte das situações em Paris. Jogue com a mesma moeda e você verá que o nativo se soltará aos poucos. Após uma troca de duas ou três fórmulas de cortesia, acompanhadas de leves risadas, quem estará mostrando os dentes e exibindo um largo sorriso de satisfação será ele (ou ela). Aí sim! Vire as costas e dê aquela gargalhada!
Obrigado por ler Paris Arty! Quer você nos acompanhe desde o início ou tenha acabado de chegar, é um prazer ter você conosco ⭐️
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