150 anos de impressionismo
#13 — O movimento mais querido da história da arte faz aniversário
Paris, 15 de abril de 1874. Há exatos 150 anos, abriam-se as portas da primeira exposição impressionista. Uma série de eventos espalhados pela França inteira homenageiam o movimento queridinho da história da arte. Mas você sabe exatamente como ele começou, e por que ele foi tão marcante? É o que veremos nesta edição!
No programa:
O nascimento do impressionismo
Um movimento em quatro revoluções
De volta para o passado
O canteiro de obras do século
Espere antes de sentar
☀️ O nascimento do impressionismo
No final dos anos 1860, um grupo de artistas, cansado dos julgamentos aleatórios do júri do Salon de arte oficial, decide tomar as rédeas de suas carreiras. Reunidos em torno de Auguste Renoir, Claude Monet, Camille Pissarro, Edgar Degas e Alfred Sisley, esses pintores ávidos de independência juntam forças para organizar a sua própria exposição. Um evento sem precedentes! Eles se associam em uma cooperativa, arrecadam fundos, alugam um local estrategicamente posicionado e imprimem o seu próprio catálogo. Em 15 de abril de 1874, às 10h da manhã, a primeira exposição impressionista é inaugurada no antigo estúdio do fotógrafo Félix Nadar situado no 35 boulevard des Capucines, em Paris.
Uma exposição inovadora
Durante um mês, cerca de 3.500 visitantes descobrem as obras dos 31 artistas participantes. Contrariamente ao Salon oficial, onde os quadros se acumulam nas paredes, as pinturas são penduradas em apenas uma ou duas fileiras. Graças à iluminação de lâmpadas a gás, o local pode abrir em horários noturnos.
Uma crítica dividida
Muito criticado, o evento provoca uma onda de choque. Alguns visitantes ficam enfurecidos por terem de desembolsar um franco para ver essas “porcarias pintadas às pressas”. Um insulto aos verdadeiros artistas, que se esforçam para criar de acordo com as regras da arte. Outros, por sua vez, elogiam as pinceladas, as cores vivas e brilhantes, as formas que parecem vibrar com as emoções do pintor, livres dos ditames da pintura oficial.
Um fracasso financeiro
Bem longe das expectativas, o valor arrecadado pela cooperativa não cobre as despesas incorridas na organização da exposição. O resultado das vendas é um desastre. Pouquíssimos quadros encontram compradores, dentre eles um certo… Impression. Soleil levant, de Claude Monet.
Um batizado duvidoso
E como essa exposição tão polêmica se transformou em um dos movimentos mais famosos do mundo? Através do comentário irônico do escritor Louis Leroy sobre a tela de Monet:
"Impressão, eu estava certo. Eu também disse a mim mesmo: já que estou impressionado, deve haver alguma impressão ali..."
O título do artigo, publicado em 25 de abril de 1874? A exposição dos impressionistas!
🧑🎨 Um movimento em quatro revoluções
Mas qual foi, afinal, a grande revolução da pintura impressionista? Suas inovações podem ser resumidas em quatro pontos.
1) A pintura ao ar livre
Com a revolução industrial, vieram as linhas de trem que levavam a diferentes destinos, tais as florestas da região parisiense e as praias da Normandia. Amantes da natureza, os impressionistas pintavam diretamente ao ar livre, montando seus cavaletes a céu aberto para capturar momentos fugazes. Os reflexos e o brilho da luz do sol na água, o movimento das nuvens, a mudança de cores do céu e a vegetação tremulando ao vento eram alguns de seus motivos favoritos.
2) Tons claros
"Em uma manhã, um de nós, sem preto, usou o azul: nasceu o impressionismo." Reza a lenda que foi assim que Renoir relatou o início do movimento. O fato é que os impressionistas utilizavam cores claras, próximas às da natureza, em uma paleta cheia de verdes, azuis, rosas, amarelos e brancos. A adoção do branco de zinco sintético é aliás outra de suas inovações.
3) Gestos inacabados
Em contraste com o estilo liso e polido da pintura acadêmica, os impressionistas utilizavam pinceladas rápidas, em gestos que antes eram reservados para esboços. O que antes poderia ser considerado um estudo se transformou em obra definitiva. Subjetiva, espontânea e viva, essa forma de pintar se concentrava nas sensações e nos sentimentos do pintor diante da cena retratada.
4) Instantâneos da vida moderna
Os impressionistas também pintaram emblemas da revolução industrial, como fábricas, estações, pontes e carros. A agitação da vida moderna se adaptava perfeitamente às pinceladas rápidas e esquemáticas desses artistas. Graças à iluminação pública, cenas da Paris noturna também ganharam vida. Outro tema de predileção: o espaço doméstico, especialmente para as artistas mulheres, personagens centrais na popularização desse movimento.
🚂 De volta para o passado
Esse momento exato da história é retraçado no Musée d’Orsay em uma exposição inédita, a 360 graus.
Em sua forma tradicional, ela apresenta as telas expostas no Salon oficial de 1874, de estilo acadêmico, frente às obras dos 31 artistas da Société anonyme des artistes. É possível entender melhor o choque de estilos e por que, exatamente, os impressionistas foram tão criticados em sua época.
Já em sua versão “aumentada”, o visitante embarca em uma verdadeira viagem no tempo! Através de um óculos de realidade virtual, é possível participar da inauguração no atelier de Nadar — com a presença dos artistas! Em uma reconstituição quase exata da exposição que marcou para sempre a história da arte, o passeio leva também até a Gare Saint-Lazare, ao atelier de Frédéric Bazille, a Bougival (onde Monet e Renoir pintaram as primeiras telas impressionistas), até Le Havre e as falésias de Étretat (ambos eternizados por Monet). Uma visita ao passado… impressionante!
Paris 1874. Inventer l’impressionnisme
Un soir avec les impressionnistes Paris 1874 - Expedição imersiva
Musée d’Orsay
16-32€
www.musee-orsay.com
🏗️ O canteiro de obras do século
15 de abril é também o aniversário de um evento não tão alegre. Nesta mesma data, em 2019, um incêndio ocorreu no telhado da catedral Notre-Dame de Paris. O fogo, até hoje de origem incerta, destruiu boa parte da estrutura de madeira, que desabou junto com o pináculo, chocando o mundo inteiro. Enquanto os bombeiros tentavam apagar o incêndio lá em cima, equipes de resgate, da diocese e dos monumentos históricos nacionais agiam em baixo para salvar e preservar ao máximo o patrimônio artístico. Após uma gigantesca arrecadação de fundos, deu-se início a uma das maiores reconstruções das últimas décadas. Os melhores artesãos do país puseram mãos à obra para devolver ao edifício sua forma original.
Cinco anos depois, esse triste episódio está prestes a chegar ao fim. A reabertura da Notre-Dame está prevista para o dia 8 de dezembro de 2024. Mas se você estiver por Paris daqui até lá, ainda pode conferir esse imenso (e histórico!) canteiro de obras, com seus andaimes sob medida que reinam no céu do quartier Latin.
Notre-Dame de Paris
6 Parvis Notre-Dame - Pl. Jean-Paul II
75004 Paris
Boas maneiras em Paris — Seu guia definitivo
Espere antes de sentar 🍽️
Após essa viagem de volta ao passado (ou ao futuro da Notre-Dame), você está faminto(a), com pressa para se instalar à mesa no restaurante. Chegando lá, o local está lotado, mas uma mesa livre parece chamar por você. Como não há fila de espera, você avança lenta e satisfatoriamente até a tão desejada cadeira de onde poderá fazer o seu pedido em seu mais belo francês.
Mas… o garçom lança um olhar furioso!
Por quê?
É porque faltou um detalhe: a autorização! Sim. Em Paris, não se pode simplesmente chegar em um restaurante e instalar-se na próxima mesa disponível. Você provocará a fúria imediata dos atendentes! O que fazer então?
Ao chegar em um restaurante, café ou brasserie, pare na porta e espere que um atendente venha até você. Indique quantas pessoas estarão presentes e siga-o até a mesa indicada. Provavelmente será ela mesma, aquela que estava livre, mas ainda assim é preciso ser levado até lá. Um protocolo bem familiar para os parisienses, que aproveitam esse momento para trocar cordialidades com o atendente e já ir tecendo uma relação de confiança — que fará você ser bem mais tratado. Quando você entra no jogo, o garçom francês pode virar seu melhor aliado!
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